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Títulos de cargos realmente importam?
Como a resposta pra essa pergunta me ajudou a evitar uma avalanche de ansiedade e a focar no que realmente importa
Já faz um tempo que eu penso sobre esse assunto e tenho sido um pouco contra qualquer título tradicional como júnior, pleno e sênior.
Quando penso nessas nomenclaturas, tento entender a real necessidade delas e sempre acabo percebendo uma bagagem negativa que esses "títulos" acabam trazendo quando o assunto é crescimento e bem-estar profissional.
Em uma realidade imediatista, não é difícil cair no efeito seriado, onde você fica sempre ansioso pelo próximo episódio. Com isso, geralmente acaba se perguntando "como eu faço para me tornar <insira-seu-próximo-título-aqui>?"
, "o que falta para o próximo passo?"
ou "como eu chego a <tal-posição-de-carreira>?"
e são questionamentos completamente válidos, mas nem sempre são perguntas tão fáceis de responder.
#É normal se comparar
Não é difícil encontrar na internet tabelas ou comparativos sobre senioridade e carreira, principalmente na área de desenvolvimento e tratar esse assunto como uma "checklist" pode trazer alguns problemas pra você ao longo do tempo.
Isso acontece geralmente quando você passa por alguns lugares e percebe um certo padrão. É inevitável que a frustração acabe aparecendo quando você se dá conta que a meritocracia funciona exatamente da forma como as pessoas vendem por ai.
É provável que você trabalhe com pessoas fantásticas que, infelizmente, não recebem o reconhecimento que deveriam, assim como trabalhar com pessoas que recebem reconhecimento por um trabalho que nem sempre desempenharam tão bem assim (ou mascararam seus erros de forma extraordinária).
É geralmente nessas situações que você acaba, inevitavelmente, se comparando às pessoas que estão ao seu redor. Pensamentos como "o que que <insira-o-nome-de-qualquer-pessoa-aqui> faz que eu não faço?"
ou "por quê <mesma-pessoa> tem título X e eu não?"
acabam surgindo quando você menos espera e, responder qualquer um desses questionamentos não é uma tarefa tão simples assim.
Diversos aspectos são considerados ao pensar em um "próximo nível": seja ele o tempo de experiência, forma de se portar ou raciocinar para resolver um problema técnico, seu salário atual (que sempre vai ser um fator fortemente considerado em uma contratação) e até mesmo a forma como cada empresa lida com seus "níveis" internamente. O que nos leva ao próximo ponto.
#Cada pessoa tem uma trajetória
Seja sobre habilidades comportamentais ou técnicas, cada pessoa tem seu histórico de erros e acertos. É esse histórico que você coloca em campo quando está participando de um processo seletivo. É uma bagagem acumulada que faz com que suas decisões boas e ruins sejam julgadas na hora de entrar (ou permanecer) em uma "posição".
Aprendizagem não é linear. É um emaranhado caótico onde cada um assimila conteúdo de uma maneira e faz o melhor para aplicar um conceito de forma prática.
Todos esses pontos são (ou deveriam ser) considerados quando você pensa se está na hora de dar o próximo passo ou se coloca em uma posição de buscar desafios mais profundos. E nada disso envolve, necessariamente, mudança de emprego.
#Cada lugar tem uma régua
Outro ponto extremamente importante que acaba trazendo imensa frustração. Cada lugar tem uma forma de avaliar as pessoas a maneira como cada empresa percebe e reconhece experiências são totalmente diferentes.
Parando para usar os termos mais comuns, é normal que determinados papéis em diferentes empresas reflitam diferentes títulos.
O que eu quero dizer com isso é que, o que é "sênior" para uma empresa pode muito bem ser "pleno" ou "especialista" para outra. É completamente comum que esses títulos sejam reflexo das pessoas e do nível de complexidade das tarefas que esses lugares estão propostos a resolver.
#Títulos são inimigos do ego
Particularmente, já perdi as contas de quantas pessoas eu conheci que mudaram sua postura após ser contratada com um título X ou Y. Às vezes nem demandava uma mudança de título, mas uma simples alteração salarial ou mudança de aspecto financeiro, muitas vezes já o suficiente para "corromper" alguém.
Não é difícil algum título de "senioridade" acabar "subindo à cabeça" e fazer com que a postura das pessoas mude repentinamente. Como se ter título X ou Y em uma mental e totalmente abstrata "cadeia alimentar" fizesse com que uma pessoa pudesse exercer algum tipo de poder ou superioridade sobre outra.
Esse fato está extremamente ligado com o ponto de sua trajetória. Nem todo mundo teve uma trajetória que permita lidar com títulos e "níveis" de forma positiva. Muitas vezes essas mudanças ocorrem de forma tão natural que a própria pessoa (ou as que estão à sua volta) só percebam essa alteração de comportamento depois de muito tempo.
#Cuidado com conteúdos nocivos
Já parou pra ver a quantidade de vídeos para pessoas "iniciantes" apareceram ultimamente nas redes sociais? E os que indicam diversos assuntos que "toda pessoa desenvolvedora precisa saber"?
Claro que muitos deles possuem ótimo conteúdo e são um prato cheio para quem quer aprender algo novo ou rever algum conceito já aprendido, mas vídeos com títulos e conteúdos sensacionalistas (os tão famosos "click baits") podem acabar sendo mais prejudiciais do que parecem.
Muitos desses vídeos acabam refletindo a visão de alguma pessoa com um certo tempo de carreira sobre assuntos que outras pessoas "iniciantes" (ou até com certa experiência) deveriam "dominar". Nem sempre esse conteúdo é simples de ser assimilado justamente pelo fato de cada pessoa se encontrar em um momento diferente de aprendizagem.
O que essa prática acaba fazendo é contribuir desnecessariamente para uma ansiedade natural que muitas acabam desenvolvendo. É incontável o número de pessoas com síndrome de ímpostor existente em nossa área e esse tipo de conteúdo só agrava essa questão.
A comunidade de desenvolvimento pode ter um impacto extremamente positivo na vida das pessoas, mas é importante saber filtrar qualquer conteúdo para que não acabe tendo um resultado indesejado.
#Todo trabalho pode ser "gourmetizado"
Na área de tecnologia, então, é algo super comum. É "software" pra cá, "engenharia" pra lá... No fim, a grande maioria das "gourmetizações" quer dizer a mesma coisa.
São termos extremamente válidos e super importantes na hora de descrever o que você faz e vender seu peixe, mas, no fim das contas, o trabalho é basicamente o mesmo: analisar situações e criar soluções que resolvam problemas da sua empresa e de seus clientes.
Seu código pode rodar no lado do cliente ou no lado do servidor. No fim é tudo texto que tá sendo processado, em qualquer lado tecnológico, e resolvendo algum problema de pessoas que utilizam seu sistema.
Foi, inclusive, pensando nisso que eu escolhi pintor de pixel
como subtítulo desse blog. 🙂
#Avalie o ambiente ao seu redor
Por fim, mas não menos importante, o que vale a pena é avaliar tudo ao seu redor.
Você está confortável no ambiente onde está? Acha que seu trabalho está sendo recompensado como deveria? Os desafios (técnicos e pessoais) estão sendo positivos?
Eu costumo brincar e dizer que: tendo um desafio tecnológico legal e um reconhecimento financeiro bacana, meu título pode ser até "tiozão do café" que eu fico feliz. ☕️
Esses são alguns (dos vários) pontos que devem ser levados em consideração. Avalie onde você está, os pontos positivos e negativos. Muitas vezes essa análise acaba sendo mais importante do que qualquer título por aí.
Foque em você, na sua trajetória e como as oportunidades existentes ao seu redor estão alinhadas com suas expectativas.
Espero que eu tenha conseguido explicar um pouquinho dos motivos pelos quais eu tenho um pouco de receio com qualquer "título de senioridade" que vejo por aí.
Esses são os principais motivos pelo quais eu, particularmente, prefiro ocultar esse tipo de informação das minhas redes sociais e sou contra essas nomenclaturas "tradicionais".
Longe de mim tentar fazer você pensar do mesmo jeito, mas talvez você já tenha passado por alguma dessas experiências e tenha percebido que muitas vezes um título não quer dizer muita coisa.
E você, o que acha de todos os títulos que estão por ai?