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Composição e React HoC (Higher Order Components)
Alguns conceitos de programação funcional aplicados à criação de interfaces
Composição é um tópico bastante abordado quando o assunto é programação funcional.
Os exemplos mais comuns seguem algumas regras como: dada uma sequência de funções, você deve executar essa sequência em ordem.
Muito provavelmente você já deve ter visto um exemplo com algumas operações de adição/subtração, onde você deve executá-las. Algo que você faria dessa forma:
const adicao = valor => valor + 1;
const subtracao = valor => valor - 1;
console.log(adicao(subtracao(2)));
Pensando num cenário onde essas funções tendem a crescer, você pode aprimorar a legibilidade do seu código e facilitar a manutenção, utilizando uma função principal responsável por executar toda essa sequência de funções, sendo algo como:
const adicao = valor => valor + 1;
const subtracao = valor => valor - 1;
// função que recebe outras funções e as executa em ordem
const compose = (...fn) => arg =>
fn.reduce((returned, fn) => fn(returned), arg);
console.log(compose(adicao, subtracao)(2));
Deixando seu código muito mais fácil de estender, sem a necessidade de ficar encadeando uma função diretamente na chamada da outra (imagine se a sequência em adicao(subtracao()) tendesse a crescer com o tempo?).
#Higher Order Functions
Higher order functions
são funções que, em resumo, recebem outras funções como argumentos e retornam novas funções como resultado (geralmente relacionada ao termo currying
, que é representado pelo fato de uma função justamente retornar outra função a ser executada futuramente).
Ainda no exemplo anterior, pensemos no seguinte cenário: você precisa criar uma função de cálculo que recebe como parâmetro uma função qualquer que realizará esse determinado cálculo (soma/subtração), então, você retornará uma outra função que, ao ser executada, receberá o valor a ser calculado como parâmetro e executará essa determinada operação de cálculo.
Escrevendo tudo isso parece até um pouco complexo, mas se olharmos o código, é um pouco mais prático de enxergar:
// Mesmas funções
const adicao = valor => valor + 1;
const subtracao = valor => valor - 1;
// Função de calculo
const calcular = operacao => valor => operacao(valor);
console.log(calcular(adicao)(1));
Ao executar esse trecho de código, você verá que o resultado ocorreu como esperávamos. Entretanto, aplicamos o conceito de Higher Order Function
, retornando uma outra função a ser executada posteriormente.
#E o que tudo isso tem a ver com interfaces?
Tendo os exemplos acima em mente, podemos avançar um pouco e pensar em que cenário tudo isso se aplica às interfaces.
Após trabalhar algum tempo com React
você acaba conhecendo, se interesando e aplicando alguns padrões que tornam seu dia-a-dia mais fácil enquanto escreve seus componentes.
Construir interfaces é uma tarefa que envolve reutilização de componentes e criação de abstrações para facilitar lógicas reutilizadas em diversos trechos de seu site/sistema.
Imagine outro cenário: você possui um botão que é responsável por disparar um alerta (um modal ou qualquer mensagem na tela).
Essa responsabilidade de disparar uma mensagem pode ser implementada diretamente no seu componente ou pode ser abstraída para que outros botões possam se beneficiar dessa implementação futuramente através de alguma prop
que será compartilhada e responsável por fazer a ligação entre seu componente e essa "camada" de abstração.
E uma das formas de criar essa camada de abstração é justamente aplicando HoC (ou Higher-order Components) e permitindo compartilhamento de lógica entre componentes.
#Vamos deixar os exemplos mais práticos
Pense no cenário onde seu componente implementa essa lógica por si só:
import React, { useState } from 'react';
import Modal from 'components/modal';
const Button = () => {
const [isVisible, setVisible] = useState(false);
return (
<button onClick={() => setVisible(true)}>
Clique aqui para disparar a notificação
</button>
{
isVisible && (
<Modal>notificação</Modal>
)
}
);
}
export default Button;
O que fizemos foi: criamos o componente de botão, que dispara uma função no click e inserimos uma variável de estado que controla a visibilidade da notificação (no caso, a modal).
Agora, vamos pensar no segundo cenário, onde essa implementação será abstraída do componente de botão e tudo que ela saberá é, basicamente, chamar uma prop
com nome de dispatchNotification
e não tenha ligação qualquer com o componente Modal
ou seja lá qual notificação é renderizada.
Em outras palavras, queremos que nosso componente se comporte da seguinte maneira:
import React from 'react';
const Button = ({ dispatchNotification }) => (
<button onClick={dispatchNotification}>
Clique aqui para disparar a notificação
</button>
);
export default Button;
Bem mais limpo, certo? Dessa forma, também removemos qualquer lógica de estado atrelado ao componente Button
.
Agora, vamos implementar nosso HoC chamado withMessage, onde ele será responsável por receber um componente e tratar esse estado que iremos abstrair:
import React, { useState } from 'react';
import Modal from 'components/modal';
const withMessage = Component => props => {
const [isVisible, setVisibility] = useState(false);
const dispatchNotification = () => setVisibility(true);
return (
<>
<Component dispatchNotification={dispatchNotification} {...props} />
{isVisible && <Modal>notificação</Modal>}
</>
);
};
export default withMessage;
Talvez pareça meio confuso olhando de primeira, mas o que fizemos aqui foi:
- Declaramos o HoC
withMessage
- Recebemos um componente genérico como primeiro parâmetro e retornamos uma nova função
- Essa nova função, basicamente, recebe as
props
do componente que foi passado como primeiro parâmetro para que ele, dessa forma, possa ser renderizado normalmente - Criamos toda a lógica de estado e visibilidade da notificação no HoC e passamos uma nova
prop
para o componente recebido, na hora de ser renderizado, em outras palavras, "decoramos" nosso componente (inclusive poderíamos manipular se ele seria ou não renderizado, entrando também no conceito derender highjacking
)
Dessa forma, o componente que antes exportávamos assim:
export default Button;
Agora passará pelo processamento do nosso HoC, onde, simplesmente faremos o seguinte:
import React from 'react';
// importamos nosso HoC
import withMessage from './with-message';
const Button = ({ dispatchNotification }) => (
<button onClick={dispatchNotification}>
Clique aqui para disparar a notificação
</button>
);
// exportamos o componente após processá-lo no HoC
export default withMessage(Button);
E assim, criamos nosso HoC.
#Compondo múltiplos HoC
O problema dessa abordagem é quando seus HoC começam a crescer e alguns de seus componentes precisam de lógicas que são compartilhadas por diferentes HoC.
Imagine que seu componente de botão (por um motivo qualquer) precisará agora:
- Receber os dados de um usuário para mostrar alguma mensagem qualquer
- Receber uma função para fazer log de eventos
- Receber uma função que realizará alguma requisição
Logo você perceberá que conforme a quantidade de HoC utilizada em seu componente cresce, as execuções de cada uma dessas funções tende a crescer junto, da seguinte forma:
import React from 'react';
// a quantidade de HoC aumentou
import withMessage from './with-message';
import withUserdata from './with-userdata';
import withLogging from './with-logging';
import withFetching from './with-fetching';
// seu componente recebe novos parâmetros
const Button = ({ dispatchNotification, dispatchLogging, userdata, fetching }) => (
/*
implementação do botão
*/
);
// precisamos procesar o componente por todos os HoC
export default withFetching(withLogging(withUserdata(withMessage(Button))));
Um pouco custoso, não? Agora, com cada inserção de um novo Hoc, uma nova chamada para processar seu componente é necessária, dificultando a legibilidade do seu código.
#Utilizando composição nos HoC
É ai que podemos utilizar a composição de forma mais clara: compondo HoC de forma a facilitar o uso dessas abstrações.
Lembra da função compose
que declaramos lá no início? Algo como:
const compose = (...fn) => arg =>
fn.reduce((returned, fn) => fn(returned), arg);
Podemos utilizá-la para compor nossos HoC de uma forma mais limpa. Deixando nosso código da seguinte maneira:
import React from 'react';
// Compose
import compose from './compose';
// HoC
import withMessage from './with-message';
import withUserdata from './with-userdata';
import withLogging from './with-logging';
import withFetching from './with-fetching';
const Button = ({ dispatchNotification, dispatchLogging, userdata, fetching }) => (
/*
implementação do botão
*/
);
// Realizamos a composição de todos os HoC
const composed = compose(
withMessage,
withUserdata,
withLogging,
withFetching
)(Button)
export default composed;
Muito mais legível e claro, não? Agora, independente da quantidade de HoC que seu componente tiver, sua clareza será mantida.
#Talvez você já tenha um compose no seu codebase e nem tenha percebido
É muito comum em aplicações React
utilizarmos outra ferramenta para nos auxiliar com estado, chamada Redux
.
E um método disponibilizado convenientemente pelo Redux
é o próprio compose
que funciona de forma bem parecida com a que implementamos.
Dessa forma, caso sua aplicação já utilize essa ferramenta, podemos importar essa função diretamente de lá, nos poupando o trabalho de realizar essa implementação por conta própria. Ou seja, por fim, o componente ficaria parecido com:
import React from 'react';
// Agora importando compose diretamente do Redux
import { compose } from 'redux';
// HoC
import withMessage from './with-message';
import withUserdata from './with-userdata';
import withLogging from './with-logging';
import withFetching from './with-fetching';
const Button = ({ dispatchNotification, dispatchLogging, userdata, fetching }) => (
/*
implementação do botão
*/
);
// Mantemos a composição de todos os HoC
const composed = compose(
withMessage,
withUserdata,
withLogging,
withFetching
)(Button)
export default composed;
Simples, não?
Se quiser, você ainda pode optar por externalizar essa manipulação dos HoC separando de alguma maneira. Por exemplo, deixando seu arquivo index.js
responsável por importar seu componente e fazendo a composição, assim você separa essa "responsabilidade" de atrelar as HoC ao componente em si:
import { compose } from 'redux';
// Importa todos os HoC
import withMessage from './with-message';
import withUserdata from './with-userdata';
import withLogging from './with-logging';
import withFetching from './with-fetching';
// Importa seu componente
import Button from './button';
// Exporta a composição dos HoC
export default compose(
withMessage,
withUserdata,
withLogging,
withFetching
)(Button);
O que achou dessa abordagem para reutilizar a lógica de seus componentes?
Se quiser brincar um pouco mais, deixei um Codesandbox pronto para você dar uma olhada,
já com as implementações manuais ou importando compose
provido pelo Redux
.
Para testar os dois cenários é só comentar/descomentar as primeiras linhas no código onde tem a implementação/importação desse código: